Quintino da Silva Lira ou Armando Oliveira da Silva eram o mesmo homem e
até o início dos anos 1980 não passava de um simples agricultor na
localidade de Pau-de-Remo, então
Município de Ourém.
Porém, a situação imposta pelos sistemas de governo
apresentadas no Brasil, com injustiças sociais aflorando por toda parte,
fez aquele pacato colono tornar-se um dos mais temidos fora-da-lei do
norte do país.
As injustiças na distribuição de terras geraram
conflitos ao ponto de Quintino perder companheiros de forma covarde,
motivando-o a arregaçar as mangas e tomar uma brava atitude de liderar
um grupo de colonos rebelados contra o injusto sistema, indo
literalmente a luta com armas nas mãos.
Quintino que foi
comparado à Robin Hood, Zumbi, Antonio Conselheiro e “Lampião” desta
nova era, quis evitar tais comparações, se auto-intitulando de
“Gatilheiro”, uma nova expressão para um novo herói do campo.
Ele na verdade teria matado, revidado, roubado e chantageado, porém não
como sua fama mostrou. Sempre houve exageros, e também é verdade que se
criou o mito de que ele teria parte com o diabo, usando técnicas que lhe
permitiam desaparecer aos olhos de seus perseguidores, como se
transformando num toco, cão ou outro animal qualquer. Na verdade,
Quintino não virava nada e sim sabia se virar nas adversidades com muita
sabedoria, mostrando-se um excelente líder estrategista. Era muito bem
informado de todos os passos da polícia e de qualquer outro perseguidor.
O que ele fez podia até não estar certo, porém mesmo inconscientemente,
Quintino conseguiu coisas que nossos governos e nossa justiça nunca
ousariam solucionar, como por exemplo, a reforma agrária.
Mesmo
procurado nos quatro cantos pelas tropas do coronel PM Cleto,
comandante das tropas na região, que se embrenharam nas matas tendo a
frente o capitão PM Cordovil, época em que era governador do Estado do
Pará, Jader Fontenelle Barbalho, Quintino desapropriou terras, assentou
“sem-terras”, resolveu conflitos como se fora um Juiz de Paz e até
casamentos realizou, causando temor e admiração ao mesmo tempo.
Quem o conheceu na intimidade impressionou-se com aquele mortal, dotado
de uma obstinação invejável, em busca de um ideal comum com sua gente: a
justiça propriamente dita.
Foram aproximadamente quatro anos
de reinado em mata fechada, período-referência em que muitas autoridades
nada fazem para atenuar o sofrimento do povo do campo, e mesmo assim
relacionava-se com as mesmas, com fazendeiros e comerciantes na medida
em que a regra era ditada. Quem veio para conversar, teve conversa. Quem
foi para guerrear, teve guerra. Quem se chegou para traí-lo, conseguiu,
pois o “Gatilheiro” era também um poço de ingenuidade, e tombou para
sempre no ritmo do pipocar das armas da polícia militar.
Quintino foi e sempre será o que as pessoas quiserem dele achar, pois de
tudo tinha um pouco, e pode ter sido um herói, bandoleiro, justiceiro,
cangaceiro, gatilheiro, Robin Hood, Zumbi, Antonio Conselheiro,
“Lampião”, um toco ou um cão, o diabo... Dependendo do ângulo ou
dimensão que se queira dar ao seu papel na história, porém uma coisa
deve ser dita sem pestanejar: Quintino foi uma das figuras mais
importante neste final de século e milênio, trazendo para discussão
assuntos e temas outrora esquecidos ou engavetados pelas autoridades.
Descansa em paz, “Gatilheiro!
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